eSports
Ser mulher no mundo do eSports – Entenda como o comportamento tóxico é prejudicial
Um dia qualquer após longo stress do cotidiano, você resolve ligar seu computador para relaxar do trabalho ou dos estudos. Já deixa seu energético a postos pois sabe que a noite vai ser longa e já abre seu jogo favorito, que no meu caso é o “Lolzinho”.
Sei que para muitos esse é o cenário comum do dia a dia para aliviar do stress, por mais que sabemos que sempre vai ter um yasuo troll nas nossas rankeds, mas acredite para algumas pessoas isso é bem mais estressante do que para a maioria.
Acredito que posso arriscar e dizer que todos os gamers já presenciaram um comportamento toxico em uma partida, mas sabe o que tem se tornado cada dia mais comum? A prática de “toxidade” ao notar um player com nickname feminino.
O comportamento tóxico, que pode ser definido como a prática de ofensas verbais, via chat escrito ou áudio, ou ações de exclusão, isolamento e não cooperação dentro do ambiente online. Ações motivadas por qualquer tipo de discriminação ou preconceito contra etnia, gênero, classe social ou religião.
Atualmente o mercado de eSports atinge, um público na faixa etária de 14 a 30 anos no Brasil. E por mais que muitos não acreditem, boa parcela desse público, é formado por mulheres, podendo o eSports ser considerado uma modalidade que possui grande potencial de inserção no universo feminino.
Segundo uma pesquisa realizada por mim mesma na época da faculdade, com um publico focado em League of Legends no ano de 2016 cerca de 30% do público era feminino, e vou me arriscar mais uma vez dizendo que esse numero deve ter aumentado desde aquele ano.
Mas o real problema, é que mesmo com a parcela feminina na comunidade crescendo, elas continuam não sendo 100% aceitas, ou pelo menos não se sentem acolhidas no ambiente online e o comportamento tóxico de alguns membros possui uma grande parcela de responsabilidade nisso.
Você acha que apenas no LoL existe esse problema?
Vamos lá.. entre no seu CSGO. Não foi fácil, não vou dizer que isso aconteceu em todas as salas, mas em grande parte sim, o comportamento tóxico estava lá.
O preconceito é visto de todas as formas. Se você joga mal alguma partida, isso aconteceu porque é uma mulher; Se o seu time joga mal um round, as criticas são mais direcionadas ao seu desempenho; se você joga bem, ou você é ofendida ou está usando cheats .
Sem contar os pedidos de whats app, perfil no instagram, facebook etc…
O que posso fazer?
A Constituição Federal é clara em seu 5° artigo, no qual diz que todos são iguais perante a lei estabelecendo que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”.
Nós mulheres conquistamos muitas coisas, e devemos nos orgulhar disso diariamente. Mas, ainda vivenciamos discriminações diárias. Um claro exemplo é a relação do salário que, quando comparado ao dos homens, demonstra-se menor, independentemente do nível de escolaridade e capacitação
O comportamento tóxico traduz em efeito direto ao cenário competitivo, onde é só não ver quem não quer a diferença do número de competições femininas, em comparação ao cenário masculino, além dos valores das premiações manterem um patamar bem desproporcional.
Muitas equipes, preocupadas com as questões envolvendo o assédio e o comportamento tóxico como um todo, já estipulam dentro de seus regimentos internos e códigos de conduta, o combate à pratica de assédio, coibindo o comportamento tóxico de seus atletas e estabelecendo multas e punições.
O comportamento tóxico dos atletas reflete diretamente na imagem das equipes, e não, nem sempre elas estão fazendo isso porque são legais.
A preocupação não é só das equipes, as grandes empresas que distribuem os jogos também estabelecem canais de denúncia sobre assédio, e dentro dos regulamentos das competições disciplinam as regras de punição de atletas e jogadores não profissionais que praticam tais atos.
A Riot por exemplo, estabelece as regras de comportamento tóxico de League of Legends no documento “Código do Invocador“, explicando o que é permitido ou não no game.
Muitas mulheres, inclusive eu mesma já usei diversas vezes dessa estrategia, utilizam nicknames masculinos ou até moduladores de voz para poderem jogar se passando por homens, ou simplesmente desligam seu comunicador, prejudicando o desempenho limitando sua comunicação durante a partida.
A ONG norte-americana Wonder Women Tech criou a campanha “My Game My Name”, que incentiva as mulheres a não se esconderem, usarem seus nicknames reais e orientando as vítimas a denunciarem o assédio e jogadores a não praticarem ou aceitarem a prática.
No Brasil, a atleta Danielle Andrade “Cherna”, um dos destaques do cenário de Rainbow Six, teve sua indicação contestada na premiação promovida pela Sportv já que era a unica indicada do sexo feminino, e sofreu diversos ataques nas redes sociais.
Combater o comportamento tóxico é dever de cada um, e existem muitas formas de lidar com a situação no ambiente online:
- Denunciar o comportamento online realizado nas redes sociais, buscando a remoção do conteúdo e punição dos perfis envolvidos;
- Reportar comportamento tóxico dentro das partidas, (cada jogo tem um local próprio para essa denuncia);
- Denunciar, se cabível, o comportamento tóxico realizado pelas redes sociais ou servidores para as autoridades policiais, haja vista que muitas das práticas podem ser caracterizadas como crimes;
- Colher provas, prints, informações, logins, Nicks, ids para municiar os órgãos de denúncia sobre a identidade do ofensor.
Vamos fazer do universo online um lugar bacana para todos, afinal a gente sabe que não é só um joguinho. É um jeito que escolhemos viver nossas vidas.
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